segunda-feira, 23 de abril de 2007

BRASIL MOSTRA A TUA CAchaça

Especial Semana da Cachaça

Essa semana, me abstenho de falar sobre cultura, porque cachaça é um elemento cultural por si próprio. Mostrarei apenas um texto de nosso maior cronista, Rubem Braga, a respeito de nossa maior bebida...

A cachaça também é nossa

Um dia apareceu um deputado com um projeto de lei proibindo em todo o território nacional o fabrico, o transporte, a venda, a compra e o uso da cachaça. Havia penas de multa e cadeia.
Não quero lembrar aqui o nome desse parlamentar infeliz. Ele falava, por exemplo, em nome da higiene. Não se lembrou de que sua lei obrigaria a gente pobre a beber álcool com água, ou sem água – que é a primeira coisa que qualquer sujeito da roça ou qualquer empregada da cidade faz quando não tem cachaça à mão.

O Brasil é o único país do mundo que não leva a seria a sua bebida nacional. Embora seja um industria totalmente brasileira (ou será que uma dessas multinacionais já comprou alguma grande marca?) com uma enorme importância econômica, e que funciona em milhares e milhares de municípios, a cachaça não é levada a sério. O candidato a algum cargo público que falar em algum projeto a respeito dessa indústria será logo alvo de piadas sem fim.
Uma vez um amigo meu foi nomeado presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool. Conversando com ele, defendi a conveniência de estudar uma política nacional da aguardente; até então o Instituto ou ignorava a aguardente ou apenas tomava medidas para diminuir seu fabrico em favor de outros subprodutos da cana. Por que não estudar seriamente o problema da aguardente de vários pontos de vista, desde o da saúde pública até o da exortação? O bom homem me olhou desconfiado, como quem diz: esse Braga tem cada idéia! Depois comentou com um amigo comum a minha “piada” de cachaceiro...
(...)
Uma associação de produtores, amparada pelo Governo, poderia dar dignidade à industria da cachaça, estabelecendo padrões de idade e qualidade (como se faz em outros países com o uísque, o conhaque, o vinho etc.), que teriam de ser respeitados, punindo-se severamente as fraudes. Só depois disso poderíamos pensar seriamente em exportação.
Mas qual! O Governo ignora pudicamente essa imensa realidade nacional que é a cachaça – a não ser para lascar impostos em cima ou proibir a venda aqui ou ali dentro de certos horários. E já estou a ouvir daqui o comentário daquele meu amigo que foi presidente do I.A.A, se chegar a ler esta crônica:
- O Braga quer salvar o Brasil com a cachaça...

Sim, cachaça faz mal, e quanto mais, pior. Mas foi com a cachaça que o brasileiro pobre enfrentou a floresta e o mar, varou esse mundo de águas e de terras, construiu essa confusão meio dolorosa, às vezes pitoresca, mas sempre comovente a que hoje chamamos Brasil. É com essa cachaça que ele, através dos séculos, vela seus mortos, esquenta seu corpo, esquece a dureza do patrão e a falseta da mulher. Ela faz parte do seu sistema de sonho e de vida; é como um sangue da terra que ele põe no sangue.

BRAGA, Rubem. As boas coisas da vida. Rio de Janeiro: Editora Record, 1988.

Lívia Lima posta todas as segundas-feiras na coluna Cultura

2 comentários:

Carolina Pera disse...

OPA!!! FUI NUMA CACHAÇARIA COM MEU NAMORADO LÁ PERTO DA SERRA DA CANTAREIRA, TINHA UMAS "KATIAS" MAIS ESTRANHAS QUE AS OUTRAS HÁ HÁ, NA MINHA MESA FOI BEBIDA ( FRASE ESTRANHA MAS...) UMA DE AMEIXA, UMA OUTRA PURINHA DE UM LUGRA DE MINAS, E UMA TAL DE MEL, OU SERÁ QUE A DE MEL ACABEOU NÃO SENDO PEDIDA??? XIIII SERÁ QUE BEBI DEMAIS?? HAHAHA


SEMANA DA CACHAÇA AQUI?? BOAAAAAA

Bianca Hayashi disse...

Poxa, preciso ler Rubem Braga!!!!!
Não curto cachaça, pow u.u