segunda-feira, 21 de maio de 2007

“A felicidade pelo estômago”


Camilo Castelo Branco é famoso por ser dentre os escritores portugueses, o que mais escreveu novelas, dentre elas “Amor de Perdição” e “Amor de salvação”. Um de seus livros, pouco conhecido, mais um dos mais irreverentes ao se pensar em romantismo é Coração, cabeça e estômago, de 1862.

O livro conta a história de Silvestre da Silva, contada através de manuscritos escritos por ele que foram encontrados por seu amigo, o “editor” dos textos, que já antecipa no preâmbulo: “Os manuscritos de Silvestre careciam ser adulterados para merecerem a qualificação de romance”. Trata-se de metalinguagem.

A obra é toda uma sátira aos costumes da época, e sobretudo à instituição social do casamento. Silvestre divide sua biografia em três partes do corpo: o coração, fase de sua juventude onde ele conta a história de sete mulheres com as quais se envolveu, dentre as rejeitadas e as bem vistas pela sociedade.

Na cabeça é mostrada a tentativa de Silvestre em se tornar um homem público, a serviço do jornalismo. Mas ele se envolve em várias intrigas. Silvestre faz muitas críticas a respeito da sua época, que também vale para os dias atuais: “há uma sociedade que não tem obrigação de ser outra coisa, logo que é elegante”. Mas nesta parte ele descreve também aventuras amorosas.

Por fim após uma vida errante e fracassada, Silvestre conhece Tomásia, uma mulher do campo que lhe conquista por seus dotes culinários. Silvestre se casa por conveniência e adota uma filosofia de vida baseada na comilança e na concentração de todas as suas atividades no referido órgão. A sua idéia abolia a vaidade, o reconhecimento social e também as paixões da cidade grande, para se abster do pensamento moderno complexo e voltar à simplicidade do campo.

O editor-personagem conta que o Silvestre chegou a escrever manuscritos intitulados “A felicidade pelo estômago”. Mas Castelo Branco não é o portador dessa ideologia, trata-se, como tudo no livro, de uma sátira. No fim Silvestre morre de “caquexia, resultante da imobilidade, e cansaço das molas digestivas”.

Críticas à parte, o fato é que este bizarro personagem pode lá ter sua razão. Segundo ele “Todo o estômago, bem regulado, produz um gênio”. Mas o que o autor mostra é que não encontramos sentido em nenhum deles:
“Cabeça e coração senti sem vida,
No estômago busquei uma alma nova
E encontrá-la pensei ... Crença perdida!”

Lívia Lima posta todas as segundas-feiras na coluna Cultura

5 comentários:

Talita Souza Silveira disse...

Grande Lívia!!!
E viva a comilança!!!
Chocolate antdepressivo, coco-cola,café, açaí... como vícios, compulsividade na hr q bate o nervosismo...
O mundo sentido pelo estomago sempre tem o lado bom...
Até a hr q a gente se olha no espelho...

Bianca Hayashi disse...

Sabe, Lí... por alguma razão, seus posts me deixam com vontade de estudar.

Adoro!

Carolina Pera disse...

Logo que vi a foto de um livro já pensei, esse post é da Lívia!! Há há, poxa no outro você só mencionou o texto da Sá de nosso blog :( !!! Tudo bem, mas leia os meus também rsrs

Bye!!!

RDS disse...

Engraçado, vou contar que romances mais antigos me levam a uma época que tenho saudades sem viver, que fico nostalgico só de "lembrar", mesmo não manjando nada de história.
Genial o post. Eu, na dúvida, como bastante pra virar um gênio, mas até agora não deu certo, uns me entendem, outros não hehehe.
Uma classe que só quer ser elegante, nossa elite faz isso. Profissão: elite, atividades: consumo... e a gente continua...
Beijos

Vivian disse...

adorei a dica!!! fiquei com muita vontade... de ler... e de comer, hahahaha! muito legal... poxa, voce faz letras, vc eh demais! vou ler pra depois eu conversar contigo sobre, ok??