sábado, 19 de maio de 2007

Sabores do Brasil


É válido lembrar que, na "terra da garoa", estabelecem-se relações intensas entre pessoas de diferentes descendências e bagagens culturais. Temos conhecimento da grande comunidade estrangeira que aqui se instalou e fez da cidade de aproximadamente 10 milhões de habitantes, seu lar.

Em São Paulo encontra-se, por exemplo, a segunda maior comunidade italiana fora do país de origem (atualmente, o número de italianos chega a 5,5 milhões pessoas em São Paulo). Não posso me prolongar na descrição, ainda que breve, de todas as comunidades residentes na caótica São Paulo, pois isso por si só mereceria um único post.

Minha pretensão ao citar todos esses grupos era a de abordar o quanto o paulistano está ligado gastronomicamente a eles. Sob este aspecto, Itália é sinônimo da macarronada, da pizza, Portugal, de bacalhoada ou vinho do porto, Espanha, da paella ou churros, Arábia, de kibes e tabules, França, dos musses e croissants. Os japoneses fizeram-nos até comer peixe cru. Com eles, descobrimos o sushi e o tempurá.

Já cheguei a ouvir de uma inglesa, há muito tempo, que a pizza paulistana era muito mais gostosa do que a que é feita na Itália. Quanto à cerveja, "paixão nacional" segundo slogans de grandes empresas que as fabricam, é curioso saber que ela é também amada na Alemanha. "Só para se ter uma idéia, o consumo de cerveja per capita na Alemanha é estimado em 130 litros ao ano".

Nessa interligação de culturas acontecendo na metrópole, podemos também encontrar, sobretudo, as comidas regionais que bem representam nossa diversidade cultural. Creio, leitor, que as nordestinas mereçam maior destaque aqui neste post.

Este foi o povo que mais sofreu discriminações e também o que talvez mais tenha trabalhado e contribuído para o crescimento da cidade. Quem passeia por Sampa facilmente encontra barraquinhas vendendo tapioca, doce ou salgada.

Quem nunca ouviu falar em mocotó, vatapá, buchada, baião de dois, acarajé, bobó de camarão, camarão na moranga, macaxeira (mandioca, para quem não sabe), pamonha, banana frita ou cuzcuz? (este aqui, feito à vapor, com milharina, água, sal e polvilho – eu conheço porque minha mãe, paiauiense da gema – bem do interiorzão mesmo – não perde o hábito de, em todas as manhãs, pegar a cuzcuzeira e preparar a receita lá de sua terra, isso desde que veio para cá, há mais de 25 anos).

Eu acho muito interessante que, a exemplo de minha mãe, os nordestinos, apesar de condicionarem-se à vida nova nos centros urbanos paulistanos, dificilmente deixam para trás seus costumes. Isto é, em minha opinião, algo muito bonito.

Esse povo simplesmente na tem vergonha de ser como é, apesar de a grande maioria, logo que veio para cá, ter enfrentado sérios problemas de discriminação. Para se ter idéia da força desse povo no Estado de São Paulo, Carapicuíba, uma cidade paulista, "registra 70% de migrantes entre nortistas e nordestinos".

Assim, com um pouco de sua aura, de sua personalidade, puderam contribuir para o desenvolvimento da cidade. Também com tanta garra e personalidade, mineiros, gaúchos – aliás, sulista em geral – , nortistas – que não são nordestinos, como as pessoas costumam generalizar – , instalaram na megalópole seus hábitos gastronômicos.

Os deliciosos tutu-de-feijão, feijão tropeiro, frango ao molho pardo, frango com quiabo, vaca atolada, pão de queijo, dentre muitos outros pratos, além de doces maravilhosos, dentre eles, o doce-de-leite, paçoquinhas, queijo fresco com goiabada (romeu e julieta), representam bem a culinária da megalópole. Aqui, encontramos muitas churrascarias, tradição gastronômica herdada dos gaúchos.

Ai, é mesmo uma dádiva que logo em minha cidade ocorra esse intercâmbio culinário, com variedades advindas de todos os cantos do mundo. Onde mais será que isso ocorre de maneira tão marcante quanto em São Paulo? Acho que essa não dá para ninguém responder né...

Enfim, falar de "Um dos maiores centros de gastronomia do mundo, com 13 mil restaurantes, onde a culinária de mais de 45 comunidades étnicas aqui assentadas, convive com uma cozinha de vanguarda mundial" é algo um tanto complicado para este espaço de blog. Como não quero prolongar ainda mais este post, hoje páro por aqui.

Para mim, já está de bom tamanho deixar a mensagem que deixei, trazendo novidades para aqueles que não conheciam tão a fundo a diversidade de sabores na metrópole, que deve dar muita inveja a qualquer cidade, de qualquer lugar deste mundo.

Elena Oliveira posta todos os sábados na coluna Brasil

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